Possibilidades e desafios em música e na formação musical: a proposta de um giro decolonial.

 

Meus pensamentos sobre:

Resumo: O texto aborda as possibilidades e desafios em música e em formação musical propondo um giro decolonial. Tal giro, que também pode ser entendido neste caso específico como um “giro deconservatorial”, propõe a desnaturalização da tradição musical, considerada como seletiva e inventada (institucionalizada) pelos conservatórios de música. Contudo, ao propor uma postura deconservatorial não se está assumindo a música erudita e o conservatório como essencialmente negativos, mas, sim, sua naturalização como o único caminho possível para a formação de músicos profissionais – no âmbito dos cursos técnicos de música e dos bacharelados, bem como de cidadãos – no âmbito da educação básica e das licenciaturas em música. Palavras-chave: Colonialidade; Habitus Conservatorial; Tradição; Giro Decolonial. 


Ideia central do texto, bastante interessante e talvez bastante pertinente para nossos projetos de música:

"É, portanto, da perspectiva da tradição que pretendo abordar o tema proposto: desenvolvendo a ideia de que há uma tradição seletiva e inventada que incide sobre a formação de músicos (seja nos bacharelados ou nos cursos técnicos) e de professores de música (nos cursos de licenciatura) que se perpetua, certamente que não de maneira estática, mas muitas vezes de forma naturalizada, e vem encontrando grandes desafios diante das necessidades apresentadas pela sociedade contemporânea." (PEREIRA, 2018. p. 10)


"Da mesma forma que a tradição, tal habitus não deve ser tomado necessariamente como sinônimo de algo negativo. Antes disso, precisa ser entendido como uma espécie de mecanismo social de (re)produção próprio do campo artístico que, em alguns casos, e ao ser transposto a outros campos – como o educativo – pode resultar em possíveis problemas." (PEREIRA, 2018. p. 10)

Olha que interessante... Marcus, sem criticar, apenas percerbe que as perspectivas tomadas na profissão às vezes passa para o processo educativo. Se isso for verdadeiro, podemos fazer uma paralelo com outras áres. Uma escolinha de futebol treinam do mesmo modo que jogadores profissionais? Quando aprendemos ciências na escola praticamos exatamente o que ciesntistas fazemos no dia-a-dia? 

 

"A invenção destra tradição seletiva musical estaria ligada à sua institucionalização pelo conservatório, que uniu as práticas tradicionais de ensino de música das corporações de ofício medievais à forma escolar: configuração escolar que se organiza, sobretudo, pela construção de um espaço escolar e de um tempo escolar, estruturados pela linguagem e pela cultura do escrito – que se impõe em detrimento à oralidade." (PEREIRA, 2018. p. 13)

Quando falando sobre a forma de ensinar e aprender música, Pereira nos fala:

"E por que este senso prático poderia representar um problema se, como afirmamos anteriormente, a existência de cursos técnicos e bacharelados que objetivam formar o músico erudito, organizando-se a partir destes princípios inaugurados pelo conservatório, não é algo a ser combatido? Porque temos assumido este como o único caminho, a única possibilidade; e à sistematização feita pela e para a música erudita como a única possibilidade de se pensar os fenômenos do universo sonoro. Mesmo no âmbito da formação do músico erudito, a fixação curricular acaba por desconsiderar demandas apresentadas pelo mercado de trabalho contemporâneo, que exigem que o músico seja, além de artista, seu próprio produtor. E, além disso, praticamente não há espaço para a discussão em torno da formação do músico diletante, amador." (PEREIRA, 2018. p. 14)

Ou seja, ele diz que a questão não está na música em si, mas no contexto escolar e na forma de abordagem utilizada que menospreza o indivíduo em detrimento do material musical em si. 


A revisão de literatura mostra que o conservatório é o principal alvo de crítica dos autores que publicaram nos seminários da CEPROM nos últimos vinte anos. Segundo Pimentel (2018, p. 54), os autores: 

        • consideram o conservatório engessado, mais teórico do que prático, focado na formação do performer solista, insuficiente para a formação do músico do século XXI;
        • consideram que a forma como a área lida com a música erudita, tal como um objeto de adoração, a isola cada vez mais do cotidiano do público em geral e a faz perder espaço na sociedade. Ainda assim, o principal foco da educação profissional é a formação de músico erudito – o solista, para ser mais preciso; 
        • concordam que o músico do século XXI não pode ser conhecedor de apenas uma técnica ou um estilo, precisando, portanto, de desenvolver a habilidade de passar por várias técnicas e estilos; 
        • afirmam que a formação do músico deve ir muito além da música; 
        • concordam que se o conservatório não mudar, ou se renovar, corre o risco de não sobreviver; 
        • mostram que muitos conservatórios e universidades já apresentam mudanças em seus currículos, na tentativa de melhorar a preparação dos músicos para sua vida profissional, porém, ainda há um foco no treinamento musical, num momento em que a maioria dos músicos atuam de forma muito mais ampla do que somente tocar ou cantar, gerando discrepâncias entre as perspectivas institucionais e as perspectivas dos alunos.(PEREIRA, 2018. p. 17-18)

Alguns pensamentos para guiarmos nossos objetivos educativos, tanto na universidade quanto em progeama de música.


Para este autor, tanto uma atitude como uma razão decoloniais são partes fundamentais deste giro, que se refere, fundamentalmente, à percepção de que as formas de poder modernas têm produzido tecnologias de silenciamento, ocultação e morte que têm afetado de forma significativa diversos segmentos sociais ao longo do tempo. A partir daí, há que reconhecer que as formas de poder coloniais são múltiplas e que tanto os conhecimentos como a experiência vivida dos sujeitos marcados pela colonialidade são altamente relevantes para entender as formas modernas de poder e prover alternativas a elas."(PEREIRA, 2018. p. 19)


Ok, então o giro decolonial é perceber as formas de poder? Além de perceber, o que temos que fazer? E como?


Como falamos no dia 16 de Setembro no MUCED, qualquer escolha, tanto de repertório quanto de metodologia, é política, e beneficia alguém e prejudica outrem. Nessa perspectiva devemos assumir isso e fazer uma abordagem que contenha a todos? Ou excluímos aqueles que consideramos ruins? Mas como garantir que essas escolhas sejam "certas"? O certo então seria não escolher nada e deixar as pessoas buscarem por si mesmas? Super impráticável... E agora?


Assim, a construção de novos habitus, que permitirá a adoção de novas posturas frente aos conhecimentos, experiências e práticas musicais, bem como ao mercado de trabalho do músico profissional, não exclui a música erudita. Como já afirmei anteriormente, apenas rompe com hegemonias culturais arbitrárias, conduzindo a música erudita ao status de uma dentre várias possibilidades de prática musical, de sistematização do conhecimento musical e da cotação do que vale como música. E, desta maneira, passa a considerar o músico profissional também como agente cultural que precisa construir possibilidades para si no cenário contemporâneo. (PEREIRA, 2018. p. 20)


Gosto sempre de pensar: "Se eu fosse o Ministro da Educação Musical do Brasil, o que eu faria?" Concordo bastante Marcus, só queria entender o que fazer na prática, o que fazer como política pública, como instituição, para chegarmos em uma partamar que seja interessante na perspectiva abordada no texto. Será que é fazer um currículo mais abrangente? Ou o próprio fazer currículo é algo colonial? Será que é trbalhar o modo de ensino? Mas se já é complicado fazê-lo com uma "tradição" que não concordamos, imagina com uma que não é hegemônica... Será que devemos intencionalmente, e discordando do texto, propor uma uniformização de currículo com músicas relacionadas às nossas localidades, instituir que todo mundo cante essas músicas na escola, na esperança que surjam professores fora da curva que façam a parte prática de um modo orgânico e não conservatorial?...


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